20 de abr. de 2011

O Bicho.





Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.






Agora, quero refletir sobre o que o "Bicho" pensava enquanto na agonia da fome, comia o que via pela frente sem examinar.
"Passei a noite toda ansioso, mordia a gola da blusa como fazia sempre que estava muito, muito nervoso mesmo. O motivo nem eu sabia ao certo, o que eu sabia era que meu estômago nunca falhava, ele sempre ficava como se um imenso abismo que apenas com o passar das horas me tragava e levava mais ainda para o fundo.Foi aí que o meu sentido do olfato percebeu (pois tornara-se aguçado) que algo se aproxima-ra. E ele estava certo. O caminhão que chegara ao lixão naquela noite tinha AQUELE aroma, aquele perfume que me deixava louco!
Como meu olfato tinha me confirmado o lixo estava cheio, lotado com restos de comida, que muito em sua grande fartura na mesa recusaram e desperdiçaram. Comidas que muitas vezes nem os próprios cachorros quiseram, mas que para mim, ham, para mim, era a refeição que iria me tirar daquele abismo profundo chamado "Fome", o que significava que pela primeira vez em uma semana minhas companheiras (que realmente não me largavam), dor e fome, que já até fazizm parte de mim, iam me dar uma trégua, me deixar um pouco sozinho. Agora eu podia parar de ouvir aquele barulho que vinha de dentro e virava dor na boca do estômago. Era a hora da busca.
Subi no topo de uma pilha de lixo e comecei a procurar, bem devagar, porque se tem uma coisa que me deixa pra lá de chateado é achar um troço gosto de comer e na pressa esfarelar tudo! Pedaços de carne, mordia, o barulho ainda estava lá. Sabão, mordia, mas a dor ainda estava lá. Borracha, mordia (mais parecia algo estranho quando caia em meu estômago, o motivo não sei) a fome não soltava a minha mão. Papel, mordia, a dor apertava o meu braço. um resto de arroz engolia, e a hora passava, Uma fruta podre mastigava vorazmente e a dor tomava conta do meu corpo, mas porque eu ainda sentia o cheiro? Olhava em volta e não via nada, lá estava eu sozinho. Sozinho, sozinho não, minhas companheiras não me largam nunca. Senti o cheiro diferente, lá longe tinha um latão, tão grande e verde. Corri em direção mais rápido do que qualquer coisa que eu já havia visto. Lá estavam eles, os pedaços mais saborosos desperdiçados por cada uma dessas famílias. Pegava aos montes e metia tudo na boca de uma vez só. Nem me importava com o homem que de longe olhava, ele podia querer um pouco, ele que viesse pegar, a dor e a fome estava indo embora e eu só saberia dizer “Adeus”.

Quero saber até quando vou ter que me deparar com tais cenas e engolir o choro e a lágrima ao ver crianças, jovens, velhos e adultos vivendo, vivendo não, sobrevivendo em tais condições. "/

                                Até aonde vai a dignidade de um ser humano?


                 Thais Rodrigues


17 de abr. de 2011

Nostalgia


Em um dia qualquer aí, estava conversando com minha mãe sobre a vida e as peças que às vezes ela prega em nós. Cheguei a conclusão de que o processo de crescimento e amadurecimento do homem vão apagando progressivamente a criança que existe dentro de nós. Certo pensador disse que o "ser adulto é sobreviver uma criança morta". Então, olhei para ela e disse: "Mãe, gostaria de voltar a ser criança; uma criança de cinco ou seis anos. Nessa época a minha unica preocupação era de pensar qual seria a minha próxima brincadeira e descobrir todo o trajeto que a labutadora formiguinha fazia ."  Não queria ter preocupações e nem ter de tomar decisões difíceis que talvez levaria suas marcas para o resto da vida. Parei e refleti. Cheguei à conclusão de que essa era a maneira mais covarde de fugir da realidade que nos cerca e que é real. Foi por isso que decidi criar este blog pois, dessa maneira posso me expressar, falar o que sinto e penso. Expor todas as minhas ideias mesmo que para os outros pareçam malucas ou cabulosas.


Thais Rodrigues